A idade da experiência e da razão
R. Santana
Eu não sou daqueles que
diz que não gosta de novela, que não perde tempo em frente ao televisor
assistindo programas populares, que são informações fúteis, subprodutos
culturais, informações não sistematizadas, opiniões pessoais que pouco
acrescentam ao conhecimento formal, sistematizado. Acho puro preconceito e intelectualismo.
A aprendizagem, segundo Piaget, ocorre quando o objeto do conhecimento tem
significado para alguém, se um sujeito do outro lado da tela do televisor fala
alguma coisa que interessa e desperta a curiosidade do telespectador, a
experiência virtual passa ser real. Se o saber de A não interessa pra B, neste
caso, a experiência da A é inútil pra B, aí a informação é fútil, sem significado,
inútil, sem aprendizagem, porém, não se pode subestimar o saber de A, pois sua
experiência pessoal tem para si significação.
Um desses dias, assistindo ao
programa “Encontro”, Rede Globo, da apresentadora Fátima Bernardes, ela solicitou
aos seus convidados e aos populares do outro lado da telinha que escrevessem
numa tabuleta ou, eles falassem sua verdadeira idade, isto é, a idade do corpo
ou a idade da alma. A maioria disse que sua idade física não correspondia à sua
idade mental, portanto, cada convidado deu sua idade diferente daquela do
registro de nascimento. Decerto, é um
mecanismo psicológico de racionalização: “... tenho “x” anos, mas com aparência
e vigor de...”, pura sublimação, a nossa idade não é aquela que aparentamos ou
achamos, mas o somatório dos anos que consumiram o corpo e a mente.
A morte e a velhice são estados da
vida de nossa pequenez, quem não morre moço, velho não escapa. Já pensou, leitor, se o homem não morresse ou
envelhecesse? O mundo seria imundo! O tempo e o fim são cutelos de Deus, tudo
será destruído pela ação do tempo, nada é para sempre, infinito é Deus. Porém,
a morte não é má, é a renovação da vida, pois para renascer tem que morrer. O
fenômeno do renascimento dá-se com a morte do ser vivo.
Superestimar a velhice é
romantismo. É humilhante a sobrevida de um corpo carcomido pela doença e pelo
tempo. O significado da vida do ser humano é a saúde, ninguém é feliz na dor. A
juventude é o crepúsculo matutino da vida, enquanto a velhice é o crepúsculo
vespertino da vida, a ausência de luz e, não se é feliz quando a luz, os sonhos
e as esperanças vão sumindo...
Achar a velhice “a melhor idade” é
suavizar a decadência física, intelectual, às vezes, moral, é desencargo de
consciência coletiva. O idoso, além de
enfrentar no dia a dia os males da idade, enfrenta problemas de acessibilidade,
financeiros, rejeição social e falta de afetividade dos parentes e da família.
Os filhos, os netos, os genros e as noras se preocupam com seu idoso, quando
esse idoso é independente econômica e financeiramente, grosso modo, para
usufruírem de benesses. Claro, não é regra geral, há exceção, todavia, são
raras as exceções.
Há uma lenda russa, do
início do Século XX, que quando o pai ficava velho, o filho lhe dava uma manta
para lhe proteger do frio e o expulsava de casa para que morresse longe de seus
olhos. Um neto que amava muito o avô, incumbido pelo pai dessa amarga tarefa,
cortou a manta em duas partes, questionado pelo pai, respondeu-lhe que a metade
da manta seria guardada para quando ele tivesse velho quanto seu avô. Hoje, os
filhos não usam a manta, mas colocam o pai num quarto nos fundos de sua casa e
o esquecem lá, então, quando possuem recursos, eles colocam o pai num abrigo e
as visitas vão se espaçando à medida que o tempo passa.
Caro leitor, não se
engane com a propaganda enganosa da mídia que nos países desenvolvidos e
culturalmente históricos, o cuidado com o idoso é melhor que o nosso país
tupiniquim, não é verdade, as mazelas familiares, os preconceitos sociais, as
exclusões, os descasos das políticas públicas, são iguaizinhos aqui, talvez, a
diferença é que, lá, as leis funcionam pra brancos, negros, ricos, pobres,
princesas e prostitutas.
Enfim, o idoso é a idade
da experiência e da razão, agora, dizer que é a melhor idade... merda!..
Autoria: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons
Muito bom, o texto